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Os cadáveres da cana 2


O Estado de S. Paulo estava bem na frente na cobertura das condições de trabalho nos canaviais, sobretudo, nas mortes dos trabalhadores por excesso de trabalho. Hoje, a 20ª morte do ano foi reduzida à triste condição de "pé de página". Lamentável. Foi um trabalhador de 38 anos, José Aparecido da Conceição, de Rosana, no Pontal do Paranapanema - uma região sinônimo de conflito. Cada morte precisa ser manchete. É impossível aceitar o boom do etanol sem mostrar de onde está saindo a tal produtividade. O ex-ministro Roberto Rodrigues, outro dia, no seminário do Valor lembrou o óbvio: "Não existe etanol sem cana e para ter cana é preciso plantar e colher". A frase é patética. Mas tem gente que esquece. Há notícias de trabalhadores que até ingerem energéticos para poder cortar mais cana e ganhar "produtividade". O noticiário do Estadão hoje peca também por transformar o trabalho escravo em "tripa" (no jargão jornalístico, aquela notícia cumprida no canto da página, com pouco destaque - pág. B6 da economia). É uma denúncia grave, no Estado de S. Paulo, e compromete imensamente o projeto internacional do etanol. Na semana passada, conversei com o secretário-executivo do Ministério das Minas e Energia, Nelson Hubner, atual ministro interino depois do escândalo da Gautama. Hubner conta que o governo está preocupado com as possíveis barreiras não-tarifárias que o mundo certamente começará a impor ao etanol brasileiro. Uma, a que o Brasil vai acabar com a Amazônia para plantar cana é falaciosa, a outra pode (e deve) ser as condições de trabalho dos cortadores de cana. Pelo menos enquanto este existir. Fonte.

Papa Bento XVI

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