sexta-feira

ONU fará reunião de urgência sobre crise de alimentos

Ajuda humanitária dos EUA no Afeganistão

Novo plano será discutido nas próximas segunda e terça-feira (28 e 29). Organização pede a governos que mantenham seus canais comerciais abertos.

Da Agência Estado

A Organização das Nações Unidas (ONU) pede que todos os países, inclusive o Brasil, mantenham seu comércio de alimentos aberto, prepara um novo plano para lidar com a fome no mundo e já classifica a alta nos preços das commodities como uma "crise global e real". O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, convocou para a próxima segunda (28) e terça-feira (29) a cúpula da ONU para uma reunião de emergência na Suíça para estabelecer o novo plano.

A estratégia terá duas etapas. A primeira será o incremento do orçamento da ONU para alimentar cerca de 77 milhões de pessoas em todo o mundo. Para isso, a entidade pede a doação de US$ 755 milhões a mais que o plano feito no final de 2007, de US$ 2,9 bilhões. Até agora, o Programa Mundial de Alimentos da ONU já arrecadou 63% da quantia extra e a entidade espera novas doações até o final do mês. Ban está convencido de que os governos ricos podem ajudar a dar uma solução à crise. Mas precisam de coordenação, vontade política e novos recursos.

Efeito cascata

O que ele teme é que vários governos usem recursos que estavam sendo destinados a outros programas sociais nos países mais pobres para solucionar a questão da fome. O resultado, portanto, seria uma "cascata" de crises, já que faltariam recursos na saúde, educação e outros setores. O dinheiro, segundo Ban, iria para refugiados, mulheres e crianças, como prioridade. Vítimas de desastres naturais também seriam atendidas primeiro.

Um segundo passo será a elaboração de uma estratégia para promover na África uma "revolução verde". Isso incluirá recursos para treinamento de agricultores, maior tecnologia e recursos para a região. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) participará indiretamente dessa revolução, já que está percorrendo o interior do continente para analisar como adaptar sementes aos terrenos africanos.

Arroz

A ONU calcula que a crise já atinge 100 milhões de pessoas e pede que os governos mantenham abertos seus canais comerciais e não apliquem restrições às exportações, como no caso da medida tomada pelo Brasil para o arroz. Na cúpula da ONU, a medida do governo sobre o arroz foi mal recebida, já que o país é considerado como um aliado na pressão pela abertura dos mercados.

Há o temor de que outros países pensem que se o Brasil, que é o terceiro maior exportador de alimentos do mundo, toma tais decisões de restrição para alimentar sua população, todos tem o direito de fazer o mesmo. A conseqüência seria devastadora para a economia mundial se isso se proliferar, alertou um assessor próximo a Ban.

O chefe da diplomacia da ONU pediu nesta sexta-feira ainda que os canais de distribuição de alimentos sejam mantidos livres de obstáculos. O preço do arroz triplicou neste ano na Ásia, e a revolta contra o custo da alimentação já gera conflitos em pelo menos 15 países. No Haiti, uma das preocupações da ONU, o próprio governo brasileiro pediu que a entidade não colocasse os soldados brasileiros na linha de frente para tentar conter as revoltas da população faminta.

Risco à estabilidade

Na Costa do Marfim, Ban se reuniu com os líderes do governo de Laurant Gbagbo. As autoridades que prometem realizar eleições e acabar com a ditadura alertaram a Ban em reuniões privadas que a fome hoje é um risco maior para a estabilidade e para as eleições que os próprios rebeldes e sua luta pelo poder.

Para a ONU, a crise dos alimentos está sendo gerada por fatores como a alta no barril do petróleo, que encarece os custos de produção e de transporte, além de gerar a alta nos próprios fertilizantes. Outro fator é a seca em várias regiões, além da maior demanda por comida entre os chineses, indianos e a nova classe média mundial. Ban, porém, rejeita responsabilizar o etanol (álcool combustível) pelos problemas.